Mário Lino: uma pancada nos portugueses
1. Numa Espanha cada dia mais plural, chamar-se «iberista» é, no mínimo dos mínimos, bizarro. (E foi em Espanha - por ironia, logo na Galiza - que Mário Lino se o declarou). Pode-se, com isso, agradar a Madrid, claro. Mas galegos, bascos, catalães e andaluzes (as comunidades que se desejam tratadas como «nações») franzem a testa. É muita gente. São já a maioria dos espanhóis.
2. «Iberista» é um conceito português. É uma doutrina resvaladia, de espíritos destravados, mesmo se (como Antero ou Oliveira Martins) inteligentes. É uma pancada que dá aos portugueses em épocas de crise. Não, o corrector ortográfico do castelhano não reconhece esse vocábulo, «iberista».
3. Ainda nenhum governo português desenvolveu uma «política espanhola». Uma que respondesse à questão: o que é exactamente a Espanha para nós? Tudo o que existe é jurisprudência interjeccional. Pergunta-se ao PM qual é a prioridade internacional portuguesa, e ele responde: «Espanha. Espanha. Espanha». E o PR não deixou passar uma oportunidade, na campanha das presidenciais, para lembrar quanto a Espanha se está (e está) a desenvolver.
4. José Manuel Rodríguez Zapatero não dura sempre. As sondagens continuam a dar a Aznar (digo bem, Aznar) uma razoável esperança de retorno. É bom lembrar que a extrema-direita espanhola (que não tem partido próprio) está em postos de comando do PP espanhol.
5. Declarar-se «iberista» é uma forma de lirismo. Ser líricos (e submissos, e pobres, e ibericamente migrantes) será o nosso particular papel na Ibéria - na Ibéria com que, segundo informa Mário Lino, o Governo de José Sócrates sonha.
6. A Espanha é um país magnífico de mais para ser tão desconhecido por portugueses responsáveis. Uma declaração de «iberismo» é, também, uma de incultura.